Descrição
Olhares que se lançam: pesquisa e ação na sala de aula
Coletânea de Artigos
Organizadores: Isac dos Santos Pereira e Vilma Maria da Silva
Prefácio: Lilian Meibach Brandoles de Matos (Doutoranda na PUC-SP em Psicologia da Educação)
Dezembro de 2018
ISBN 978-85-94380-15-9
130 páginas
Autores(as):
Alessandra Raymundo
Caroline Finotto Rullo
Conceição Freitas de Souza
Daniele Yamada Prazeres Paszko
Delvanir Alves de Souza Reis
Driele Isaura Aparecida Marques
Isac dos Santos Pereira
Josoé Durval Aguiar Júnior
Joseneide dos Santos
Lucinéia Souza dos Reis
Marcia Cristiane Teixeira Pinto
Michele Freitas de Medeiros
Rosane Rodrigues da Silva
Sônia Regina Salimeno Zavatini
Tamyres Mafra de Paula Pinheiro
Prefácio
O livro tem por objetivo valorizar o professor como “Professor Autor”, propiciando uma “troca de figurinha” acadêmica e de práticas educativas, isso é, reconhecer o desempenho docente comprometido com o sucesso dos educandos, criando uma linha editorial para socialização das práticas de sala de aula que contribuem para a melhoria dos indicadores educacionais. O professor autor não é mais alguém que apenas expõe conteúdo – ele o produz de acordo com as necessidades da turma.
A autoria, que é uma das formas mais prestigiadas de reconhecimento no mundo acadêmico-científico, não é, no entanto, prerrogativa apenas e tão somente dos professores e pesquisadores que atuam nas universidades e centros de pesquisa. Também são os professores e as professoras da escola básica autores de textos, de ideias, de propostas e, fundamentalmente, da educação nacional.
Por que ser um professor autor? Homens e mulheres de ciência e arte que são, os professores e professoras da escola básica não são meros consumidores de pesquisa e leitores de textos produzidos pelos outros. São, na verdade, os principais autores da educação e os grandes responsáveis pela inserção das novas gerações no mundo da cultura e da política.
No contexto atual não é mais possível organizar o ensino em torno de lições rígidas e aulas reprodutivas. É necessário elaborar permanentemente condições e situações didáticas de aprendizagem que atendam melhor as necessidades da diversidade de alunos. Por isso, exige-se, que o professor tenha capacidade de autoria dos conteúdos de ensino, domínio didático com apoio nas novas tecnologias e, por fim, consciência da importância social e política de seu trabalho.
As transformações pelas quais a sociedade vem passando, acompanhadas pelo desenvolvimento das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), têm exigido um novo perfil de formação dos profissionais muito mais voltado para o desenvolvimento de competências e para um pensamento complexo, do que simplesmente o domínio de técnicas e de informações de sua área de atuação.
Muito mais se espera de um bom professor: que tenha domínio dos conteúdos de ensino; que tenha embasamento teórico de sua prática; que saiba traduzi-los em uma linguagem condizente com o universo de experiências dos alunos; que saiba organizar didaticamente as unidades de ensino; e, finalmente, que seja capaz de levar os educandos a estabelecer uma relação significativa com o conhecimento. Para sintetizar, podemos dizer que é o conjunto dos saberes 4: científicos, curriculares, didáticos e metodológicos que constituem o “saber pedagógico” do professor, cuja finalidade é a aprendizagem e o desenvolvimento integral de seus alunos.
Observa-se, porém, que a atuação docente é ainda muito desvinculada da atividade de pesquisa. Forma-se o professor para que seja, prioritariamente, um agente da sala de aula que não se converte, na maior parte dos casos, em lócus e objeto de investigação. Além disso, alguns professores se envolvem com a pesquisa, porém desvinculada da prática.
O que se espera, ao contrário, é que essa prática não seja uma atividade complementar à atividade profissional docente, e que o professor se coloque como sujeito de uma prática investigativa que se converta em ferramenta indispensável à reflexão sobre o seu trabalho e para a compreensão dos processos de aprendizagem de seus alunos.
A ideia de “autoria” a que nos referimos está, assim, intimamente ligada, à prática reflexiva do professor como “intelectual transformador”, de maneira que aqui no livro se apresenta: intelectuais, combinando reflexão e ação no interesse de fortalecerem colegas com as habilidades e conhecimento necessários para abordarem as injustiças e de serem atuantes críticos comprometidos com o desenvolvimento de um mundo livre da opressão e da exploração. Como diz Giroux (1997), intelectuais desse tipo não estão meramente preocupados com a promoção de realizações individuais ou progresso dos alunos nas carreiras, e sim com a formação de cidadãos que possam interpretar o mundo criticamente e mudá-lo quando necessário.
Falar sobre autoria docente requer um esclarecimento do sentido/significado que a palavra autoria possui nesta investigação, tendo em vista a polissemia do termo e a necessidade de ressignificação que subjaz ao mesmo. Tornou-se necessário construir uma nova estampa para este tecido chamado autoria, a partir da articulação com os conceitos de autonomia e de autorização, tendo em vista que ao tecer esta estampa “autoria”, utilizo de outras palavras que emprestam seus sentidos, instituindo-lhe uma acepção de autorização – enquanto permissão que o sujeito se 3 concede, autoriza-se e se reconhece como produtor-escritor do seu próprio nome, de modo autônomo. Daí, a articulação com o termo autonomia, enquanto independência criadora do sujeito, que cria e dá sentidos as suas práticas – no caso desta pesquisa em específico, as práticas pedagógicas. Destarte, autoria implica o ato de o sujeito expressar a si mesmo, escrever seu próprio nome, inscrever-se aí, em quaisquer circunstâncias individuais e sociais. Nesta vertente, Foucault (1992), destaca que a autoria se constitui numa instância que só acontece, só existe, só se expressa, quando o sujeito expressa-se aí; quando o sujeito atua nessa condição-de-ser.
Compreendemos que a autonomia é poder de criação, o que denota na reflexão do autor a ideia de autonomia implicada com autoria. Desse modo, a autonomia está relacionada ao poder criativo humano, e no caso do professor, centra-se no modo de ser/agir/estar deste, pautados nos contextos em que vive e nas práticas pedagógicas. Ademais, a autonomia fica evidenciada como liberdade na ação que se funda na consciência do diálogo, na relação, diálogo, irredutibilidade, diferenciação, etc. das pessoas entre si, como seres humanos,
Assim, escrever sobre a questão do trabalho do professor, colocando-o em processo de autoria, se volta para como seu pensamento expresso evidencia a questão da articulação cognição&emoção no fazer pedagógico.
Por fim, fazer uso da potência comunicativa que tal recurso possibilita é um desafio a ser perseguido como estratégia para ampliar e qualificar os processos entre teorias e práticas docentes. Isso é um campo fértil para a construção de processos formativos com características mais democráticas, colaborativas e solidárias.
Lilian Meibach Brandoles de Matos
Doudoranda na PUC-SP em Psicologia da Educação, Mestre em Psicologia da Educação, Pedagoga, Psicomotricista e Psicopedagoga pela PUC-SP. Também fez especializações em Neuroaprendizagem e Psicanálise. Teve vivencia internacional realizando cursos na área de Educação em Nova York e em Toronto. Está na área educacional há 16 anos, atuando em instituições particulares e públicas. Já atuou como professora de educação infantil e ensino fundamental I, coordenadora pedagógica, orientadora educacional e diretora. Hoje, atua na gestão pública na Secretaria Municipal de Educação, formação de professores da rede pública e também é docente no ensino superior na rede particular.